quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

VIOLÃO AMIGO

(Adyr Pacheco)









Noite de solidão à luz da lua
Choram saudosos na deserta rua,
Plangentes violões em nostalgia
Nos acordes sonoros da boemia.


Cínico, vadias nas noites sombrias,
Nas cordas vibrantes das suas melodias
Testemunho de alegrias tristezas e dores,
Dos muitos amantes e falsos amores.


Madeiro amado és meu conselheiro
Das noites insones em nostalgia,
Leal amigo no solitário calvário;

Perfumas a alma de teu companheiro,
Madeiro amigo sincero parceiro
Teu som celestial é bálsamo ao seresteiro.

(Florianópolis 01/12/99 -10:30)

PERFUME DA ACÁCIA

(Adyr Pacheco)








Viajando espaços
Entre mundos etéreos,
Deparei-me com um SER
No distante Oriente
Que se manifestava
Em corpo luminescente.
Celeste perfume
De suave essência me envolvia.
Percebia o nobre aroma
Que daquele SER exalava.
Profundamente emocionado
Ante celestial encontro,
Entre lágrimas de gratidão
Prostrei-me ajoelhado.
Ao meu lado,
Rompendo-me a escuridão
Aquele SER elevado
Explicou-me com fidalguia,
Este é o perfume da ACÀCIA
Símbolo da sabedoria.
Seu ramo representa
A alma do MESTRE Hiram
Luz da Maçonaria.


(Florianópolis 17/01/2010 - 06:28)



FILHO MEU

(Adyr Pacheco)
(Poema publicado na II antologia / Grupo de Poetas Livres                 - ano 2000)








 

Filho, filho meu,
Que fazes dos sonhos teus?...
Perambulas como sombra,
Como sombra te escondes
Nos escombros de teus atos,
Atos mortos, obscuros absortos,
Sem canto nem encanto
Entretanto sem ponto?

Filho, filho meu.
Onde encontram-se os sonhos teus?...
Pelas ruas, sem luas, escuras,
Escuras ruas,
Fugindo ao próprio Deus.
Pisando na sorte,
História sem corte, sem norte,
Esquecido da vida sentida,
Vivida, tão surda tão muda doída,
Abrindo feridas pensando ser forte?

Filho, filho meu,
Arranque do coração teu...
Os comportamentos tão lentos, violentos,
Na arrogante e constante pirraça sem graça,
No desafio fraco, sombrio, sem brio,
Afônicos, irônicos nos pensamentos teus,
Criando em momentos, tormentos cruentos,
Levando todos ao inferno de Orfeu.

Filho, filho meu,
Organiza os pensamentos teus...
Na lembrança, a esperança da bonança,
Da criança que um dia tu viveste,
Sentindo, caindo, pedindo
Auxílio aos pais teus,
Que nas lutas tão brutas, tão curtas,
Amparam-se ao grande Deus.

Filho, filho meu,
Onde estão as crenças tuas?...
Tão nuas, tão cruas, tão só tuas?...
Onde tudo se perdeu?...
Onde o desejo ardente,
Ciente, da mente decente,
Das horas contentes, luzentes,
O que aconteceu?
Pra que as horas tão tortas, tão mortas ?
Pra que filho meu ?...


(Tabatinga,  AM  02/ 11/ 97 -  05:50)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

MEMÓRIAS DE SENZALA - III (PAI THOMÉ)

(Adyr Pacheco)












...E era bonito a gente ver.
Nego José sentado ao toco
Com Pai Thomé ao alvorecer,
Contando contos muito faceiros,
Histórias lembravam ali no terreiro.
...E José acompanhava
Cada palavra que se revelava.
Saciava-se frase a frase
Absorvendo toda mensagem.
Eram mensagens de vida,
De esperança em novos tempos.
Eram mensagens de alimento
À fé no Senhor do firmamento.


Vez por outra,
Pai Thomé interrompido
Era então interrogado
Pra se ver esclarecido.
E ali ficavam  em risos
Os alvos dentes mostrando.
Sob a manta dourada do Sol
O palheiro companheiro
O fumo de corda ao lado
Serenamente fumando.
E perdiam-se no tempo
Como dois seres alados ...


(Fpolis  02/05/02   - 00:30)

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

BOLERO

(Adyr Pacheco)












Madrugada,
Corpos que se cruzam
E a música me encontra
No compasso do bolero.
Dois pra lá,
Dois pra cá.
A sensualidade,
O ritmo,
Perfume de mulher.
La Barca,
História de un amor,
Nosotros, Sabra Dios.
Encanto, nostalgia,
Sussurros, promessas,
Afagos, abraços,
Uma mulher a sonhar.
A mágica melodia
Na leveza dos passos,
A dança,
Rostos colados,
Corpos suados
E me faço eterno
No abraço da noite
Em suave ninar.


(Fpolis  26/ 08/ 02  -11:45)






MISTÉRIO DO SER

(Adyr Pacheco)










 

É misterioso o ser...
Reflexos dos porões
Da consciência - ou do ego?
Mas caminho cego
Em meu entardecer.
Corpo curvado
Sob o peso do passado,
São grisalhos os cabelos
No tempo consumado.
Histórias, memórias...
E agora...
O que importa
Se fechada ou aberta
Encontra-se a porta.


(Fpolis  17/06/08 - 09:10)


ENCANTO

(Adyr Pacheco)









O mar, um cantinho entre as pedras,
Uma praia, só nos dois.
Relembrar nossas histórias,
Nossas glórias, nossas vitórias.
E depois...


No barulho das ondas
Viver, sentir nossos valores.
Esquecer os dissabores,
Num instante, um beijo ofegante,
Momentos de prazer...

O mar, uma onda, a areia.
Olho-te, me olhas, és minha sereia.
Nos amamos, somos um...
Esquecidos de tudo, do mundo
Sem mácula,  ou passado.
Só um mágico encanto...
Profundo!...
De prazer!!!...


 (Fpolis  02/04/00 - 19:00)

NEGO ZÉ

(Adyr Pacheco)

  










Ocês qué mi cunhecê?...
Intão vô dize a ocês.
Eu mi chamo nego Zé.
Não sô o Zé da Silva,
Ou o Zé de Andrade,
Nem o Zé alfaiate
Nem tampouco o Zé,
Fio do seu Romeu
Que as veiz
Até dá uma de Cirineu.


Sô apenas o nego Zé
Um simples escravo.
Sô escravo do norte,
Sô um nego forte
Que fugindo com sorte
Deu de cara com a morte.
Partiu nego Zé!!!
Dizem até por aí
Confesso que escutei,
Que o danado não morreu,
Sua alma é que se escondeu
De tanto que o nego sofreu.


(Florianópolis 20/10/99 - 01:00)



HERESIA

(Adyr Pacheco)












Ó homens loucos
De lucidez encravada.
Ó almas loucas
De consciência alterada.
Abortai do útero
A insensatez
Do malfadado ato,
A heresia de teu credo
Presença obscura do ego.
E foge de teu ser
Na abstrata presença
Onírica do caos
Sem sentido no espaço
No ocaso do eco.
Ó insensatos
Que espectros navegais
Entre os absurdos
Das próprias torpezas
Em tantos ais.
Onde está a consciência
Dos chamados racionais?...


(Florianópolis 10/10/02 - 16:45)