segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

REPENSANDO

(Adyr Pacheco)











Repenso as métricas
Das minhas prédicas.
E nesta viagem
Entre as tantas réplicas,
Me vejo o poeta
Transitando entre retóricas
Lembrando passagens históricas.
Vivendo o abstrato,
Pinto meu próprio retrato
Nas cores do surrealismo.
Relembrando o obscurantismo,
Vejo-me no ostracismo
Com a escuridão do pessimismo.


Repenso a vida,
Nas lidas feridas doídas.
Deus entre os ateus e fariseus.
Os céus e os infernos eternos
Os homens nos seus belos ternos.


Repenso o tempo, o vil momento
Da história mal traçada.
Repenso o poeta
Nas tantas prédicas
Traçando réplicas céticas.
Na força das minhas métricas,
Nos versos às vezes complexos
Outros singelos ou mesmo sem nexo,
Levo ao mundo o meu abraço
Com o traço do homem casto.

(Natal - RN   -19/10/00 - 11:45)
Reforma Ortográfica - NOVAS REGRAS
www.reformaortografica.com/

domingo, 24 de janeiro de 2010

William Shakespeare - VOCÊ APRENDE

O MENDIGO E O CÃO (Crônica)

(Adyr Pacheco)

Um dia destes ao passar pela praça da alfândega, deparei-me com a figura de um mendigo e seu cão.

O mendigo encontrava-se estirado ao chão tendo as pernas cobertas de ulcerações. Por sua vez o cão lambia carinhosamente aquelas pernas que por certo deveriam proporcionar-lhe muitas dores.

Parecia-me que a cada lambida do cão, as dores amenizavam-se trazendo-lhe uma sensação de bem estar e frescor.

Era aquela cena, uma imagem diferenciada do todo, traduzindo reações inusitadas de nojo por alguns transeuntes e total indiferença por outros.

Por ali, permaneci por algum tempo, analisando a cena um tanto bizarra do cão que lambia o seu dono e, por ele, também era abraçado em uma troca de afeto e carinho como grandes e verdadeiros amigos. Era a interação da amizade de homem e cão.

Logicamente aquela cena chamou-me à reflexão. Ante a necessidade dos verdadeiros exemplos, que carecemos em nossa sociedade que não se cansa de fazer apologia às hipocrisias, embrenhando-se pelos caminhos das falsas “verdades”.

E aquela massa passava cabisbaixa, com pressa, envolvida com suas dificuldades e necessidades, que na complexidade dos mares da vida em virtude das ondas de interesses vários navegavam. Alguns rostos sofridos, outros indiferentes e eu ali presenciando toda aquela gente.

O mendigo e o cão percebi - eram exemplos.

A amizade que os ligavam era real, fazendo inveja a todos que com um mínimo de atenção aquele quadro presenciassem.

Carecemos mais que nunca do exemplo da amizade demonstrada pelo mendigo e seu cão.

Não podemos chamar a sociedade de cachorra, porque certamente estaremos ofendendo os pobres cães que se oferecem em amizade transparente, sem hipocrisias, interesses e sem máscaras.

Nossa sociedade infelizmente carece profundamente de amizades leais e verdadeiras, como as proporcionadas pela humilde dupla estirada naquele chão da alfândega.

Oh! Deus, quando será que o homem deixará de se conduzir pelos instintos ainda animais e sua forma inconsciente de ser irracional? Quando meu Deus, a consciência haverá de se desabrochar em sua forma hominal para que se apresente o ser verdadeiramente racional?

Mais repugnante que o cão lambendo o seu dono, é a hipocrisia estampada na face de cada um de nós que nos apresentamos com caras de “bons moços”. No tapinha nas costas com um “meu querido”, estampando um falso carinho. No sorriso irônico de superioridade traduzindo palavras bem pensadas em colocações mentirosas e bem conduzidas.

Mendigo e cão eram exemplos, sim, é bem verdade, em um mundo de contradiçôes e falta de lealdade.

Infelizmente a máscara dos homens, não lhe permite abrir as portas e as janelas da casa de sua alma para a verdadeira amizade, lançando-o na solidão das desconfianças ou nos labirintos das mentiras e traições.

Para nossa tristeza, percebemos então que a força dos interesses imediatistas, (e somente eles importam) situam-se como fatores claramente dominantes, sendo a tônica dos relacionamentos desses pobres seres chamados “humanos” – infelizes almas indecentes.

Mendigo e cão, (exemplos a esses homens nojentos, que vivem sedentos do sangue de seus irmãos) transcendiam nesta tela, a um mundo divino, na beleza cristalina da visão de um Michelangelo, Da Vinci ou Aleijadinho.

O homem, refratário das leis da natureza, terá com certeza o seu horto nas lágrimas da desilusão, sentindo a falta de amizade na solidão das cavernas, entrincheirado nas sombras do desprezo, pedindo a morte por compaixão.

(Florianópolis 11/11/03 - 10:15)

ORIENTAÇÃO

(Adyr Pacheco)











Desnuda-te ó espírito
De tua arrogante postura,
Conquista logo a candura
Em teu coração perturbado.
Pois ao espírito renegado
Também é dado o conforto
Que Jesus deixou no horto
Antes de ser crucificado.


(Florianópolis 13/10/03 - 11:50)

DESERTO

(Adyr Pacheco)










No deserto
De minhas angústias,
Bebo o meu silêncio
Sem hora e sem tempo.
O vento sopra
Roçando meus ouvidos
Parecendo um amigo
Ansiando contar-me
Segredos.
Sem abrigo,
Já um tanto envelhecido,
Busco então no imaginário
A imagem do calvário
De um Jesus compadecido.

(Florianópolis  05/10/03 - 09:15)

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

“...Calo-me ante a síntese,
De um passado
Raptado no tempo.
E a brisa em sussurro me afaga
Com o hálito
Da nostalgia e da saudade.”
(Adyr Pacheco)

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

SONETOS - VINÍCIUS DE MORAES

O LAVRADOR POETA

(Adyr Pacheco)



A manhã aproximava-se e o canto dos pássaros na mata denotava grande alegria reverenciando o dia prestes a chegar. Percebia-se que aquele recanto; um pequeno paraíso escondido do mundo, exalava felicidade e harmonia. Os moradores acordavam-se cedo, com o cantar dos pássaros, preparando-se para a labuta diária na terra.

Em todos os cantos sentia-se um profundo bem estar e um aroma de grande paz espiritual, movido talvez, pelas características simples e humilde de seus moradores e, da paradisíaca beleza daquele pequeno rincão, protegido pelos caprichos da natureza, com sua mata, pássaros, cachoeiras e cascatas.

...Neste recanto perdido do interior, morava um lavrador que sonhava em ser poeta. Imaginava-se recitando em eventos de variados matizes. O teatro, um grande público em delírio aplaudindo-o. Assim passava muitas horas viajando em seus sonhos e anseios “inalcançáveis”.

Quando amanhecia, o lavrador poeta já estava na roça dedicando-se à sua labuta cotidiana.

No recanto em que trabalhava a terra plantando suas hortaliças, verduras e legumes, sentia-se verdadeiro soberano daquele reino intocável. Ali, era rei e senhor de sua própria natureza e realidade comungando-se com as suas mais íntimas verdades. Ninguém opinaria ou lhe daria o mínimo palpite que fosse. Governava como senhor absoluto aquele pedaço de terra. Era este recanto humilde, seu reino e seu céu, o mundo em que desenhava infinitas possibilidades de realizações nesta existência.

O poeta lavrador, era por sua vez um homem feliz. O arado, a pá, a enxada, tomavam conta de seu tempo, não lhe permitindo possibilidades de desânimo ou tristezas. O tempo o absorvia com as preocupações da terra.

Nos momentos de relaxamento, situação em que saboreava um gostoso “palheiro”, perdia-se o lavrador nas lembranças de seu passado. Relembrava a infância, os amigos, os amores, às intempéries, as pragas que destruíam as lavouras, enfim, um mundo de recordações descortinava-se a sua frente. Nesta oportunidade, o agricultor deixava-se levar pela inspiração. Transpirava poesia, elevava-se aos mais altos cumes acompanhado pela sua musa inspiradora. Elevava-se ao Monte Olimpo, no encontro sublime com os Mitológicos Deuses de Homero. Recitava aos pássaros, às flores, às matas e aos ventos. Cantava a beleza da terra e de todo o firmamento. Nos versos simples, contava suas histórias e memórias, tristezas, dores, esperanças, alegrias e desilusões.

Aureolado pelo brilho que envolve as almas puras de coração, o poeta, neste momento, sofre grande transfiguração. Armara-se ali, um cenário especial de pura magia em pleno coração da natureza. Perfuma-se a aragem em uma perfeita interação do céu com a terra sob o encanto de uma fragrância transcendental de essência celestial. Um anjo em trajes rústicos a embalar os planos da criação. À sua frente, imaginava multidões emocionadas com as estórias que em seus versos contava.

Assim vivia o poeta lavrador a cada dia de sua vida, repetindo cada gesto, na pá, na enxada e no arado. Ao anoitecer, o momento de descanso no aconchego de seu lar, sonhando com os raios do sol no abraço do novo alvorecer para mais um recital à natureza.

Sonhava é bem verdade, com os palcos da cidade, as praças públicas os grandes eventos, mas faltava-lhe coragem para encarar tão precioso mister. Sentindo-se inferiorizado, ocultava-se com seu precioso talento. Desconfiado, plasmava na imaginação pré concebida, a imagem de sua “incompetência” - forma inferiorizada em que se colocava.

A coragem não era o seu forte.

-Deixar-se ridicularizar? Nunca! mas nunca mesmo. Preferia antes, enfiar-se numa toca escura e nunca aparecer para mais ninguém, do que submeter-se a tamanha vergonha.

- Deus me livre! O que pensariam os amigos?

- Meu Deus! Quantas chacotas teria que enfrentar pela vizinhança afora?

- Não e não! Nunca me submeteria a tamanha situação.

Desta forma conduzia a vida o poeta lavrador. Todos os dias repetindo as mesmas atividades e recitando o seu espetáculo solo para a natureza.

Certo dia, o agricultor já sentindo o peso dos anos; cabelos esbranquiçados pelo tempo e, enfraquecido, descobre-se abandonando o corpo que o servira nesta jornada.

Ao chegar nas esferas superiores, é recebido por uma corte de amigos inimagináveis. Por todos os lugares em que ele passava, lia trechos de poesias que reconhecia serem suas. Os versos, estavam escritos em letras douradas e iluminadas, distribuídos por todos os cantos estratégicos daquele recanto do espaço em que aportara.

Percebia o lavrador, que em sua passagem, muitos pássaros dobravam o seu canto em belos gorjeios num espetáculo indescritível de virtuosismo como um hino de louvor. Vários animais em reverência, acompanhavam a “procissão” num ato de carinho e respeito. Escutava suavemente, vozes diamantinas em emocionantes corais elevando ao alto hinos de gratidão com as letras que outrora envergonhara-se de mostrar.

Emocionado, pergunta ao amigo espiritual que o acompanha sobre o motivo de sua surpresa por tamanha manifestação. Responde-lhe o amigo, que aqueles versos, quando recitados por ele, (lavrador) na labuta da vida diária, vitalizavam toda a natureza fortalecendo a terra, dando beleza às flores, alegrando os animais, pássaros, as matas e até mesmo o vento, que muitas vezes o acariciava emocionado e agradecido sem que o poeta viesse perceber.

Com a sua récita, facilitava todo o trabalho da natureza, proporcionando leveza à atmosfera, distribuindo energias edificantes e sublimares, suavizando por sua vez, o peso das dificuldades dos companheiros de labuta.

Percebeu então, que na simplicidade de sua vida, construíra um mundo de alegrias e uma atmosfera de realizações e felicidade à sua volta. Conquistara seu passaporte para a viagem a outros planos de realizações edificantes. Pleno de satisfação, seguiu com o coração palpitante de felicidade e alegria. Sentia na acústica do ser, as vibrações energético-espirituais que lhe conduziam a eloqüência dos versos traduzidos. O poeta não suporta mais a emoção e chora. As lágrimas invadem-lhe o coração rompendo as comportas dos olhos lavando-lhe a face. Chora o poeta, agradecido ao maior de todos os poetas, o Senhor do Universo, que bondosamente lhe reservara no cenário deste mundo, aquele humilde personagem para encenar seu espetáculo no palco da existência.

Parte agora o poeta, ao encontro de um mundo novo, com o compromisso de novos trabalhos em outros planos da criação.

...E o lavrador poeta transcendendo sua natureza rústica, vê-se aureolado de luzes adentrando outros portais, fazendo seus recitais para o aplauso do universo em festa.

(Florianópolis 26/11/03 - 00:05)

domingo, 17 de janeiro de 2010

PERFUME DA ACÁCIA

(Adyr Pacheco)








Viajando espaços
Entre mundos etéreos,
Deparei-me com um SER
No distante Oriente
Que se manifestava
Em corpo luminescente.
Celeste perfume
De suave essência me envolvia.
Percebia o nobre aroma
Que daquele SER exalava.
Profundamente emocionado
Ante celestial encontro,
Entre lágrimas de gratidão
Prostrei-me ajoelhado.
Ao meu lado,
Rompendo-me a escuridão
Aquele SER elevado
Explicou-me com fidalguia,
Este é o perfume da ACÀCIA
Símbolo da sabedoria.
Seu ramo representa
A alma do MESTRE Hiram
Luz da Maçonaria.


(Florianópolis  17/01/2010   - 06:28)






quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

HINO MAÇÕNICO - Orquestra Sinfonica de Santos  http://www.youtube.com/watch?v=aE5s7w-fz24

MENSAGEM

“...E adentrei a coluna do norte
Com a Alma consciente
Fugindo à profana morte.
E do distante Oriente
Percebi a luz que me espreitava
Era a Sábia Maçonaria
Que fraternalmente me abraçava.”

(Adyr Pacheco)

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

NOSTALGIA

     (Adyr Pacheco)

     -A meus pais-
Uma nota de saudade










Sob as pedras
Te ocultas,
Paisagens partidas
Entre suspiros desertos.
De medo tremo
E o túmulo me amedronta.
E amedronta-me
A matéria,
O tempo,
O pó.
As flores esmigalham-se
Na precária vida
Que me traz o silêncio.
Calo-me ante a síntese
De um passado
Raptado no tempo.
E a brisa em sussurro,
Me afaga com o hálito
Da nostalgia
E da saudade.


(Florianópolis 01/11/02 - 14:00)

METAMORFOSE

(Adyr Pacheco)












 A luz do sol sorriu
E em breve tempo,
A metafísica da existência
Esparge seu perfume
Com as essências
Da alquimia etérea.


Vibra a vida
Lucidamente num gesto.
E candidamente
Desfaz-se em outro gesto
Metamorfoseando-se
No silêncio funéreo.


(Florianópolis  13/07/01 - 13:20)




Rolando Boldrin interpreta - Sinto Vergonha de Mim

Rolando Boldrin - Homenagem a Luiz Gonzaga:   http://www.youtube.com/watch?v=JWovvar_Sz8
Rolando Boldrin - Homem Não Chora:    http://www.youtube.com/watch?v=-YEQCscdK38

ECOS DE LIBERDADE

(Adyr Pacheco)








 

Liberdade! Grita o corpo
Na dor que arde... e tarda
Na agonia dos grilhões.
Anseio em longínquo horizonte,
Fonte de esperança
No tempo que se arrasta
Na lágrima que se desgasta.


Reflete a aurora de um tempo,
No tempo
De nova aurora que surge.
Amplexo do funéreo acalanto
No canto do sentimento
Da liberdade que urge.
E planta a semente do fruto
Em luto pródigo.


Arde a dor na tarde
Do funéreo pranto
E já nu, sem manto
Nem encanto
O alquebrantado corpo
Quase morto
Canta a saudade
Da liberdade santa.

Das entranhas o grito mudo
Quase surdo ecoa-se no invisível.
E rompe-se indelével no som
Da alma que parte.
Inexoravelmente
Alforria-se o escravo inocente.
Liberdade!...Liberdade!...Liberdade!


(Florianópolis 25/06/01  - 15:15)




    Acacia Amarela:    http://www.youtube.com/watch?v=oma4sTc223E

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

ENCANTO ETÉREO

(Adyr Pacheco)








 

Minha alma apolínea,
Reverbera-se entre sonhos
Esquadrinhando estrelas.
Estátuas entalhadas
Entre limbos seculares,
Aos altares refletem
Antagônicas esperanças.
Contudo acorrentado
Em paradoxos e misérias,
Vivo a intempérie
De meu tempo
Com os algozes da matéria.
Sorriso cansado
Sem lágrimas no pranto,
Vendo a lua me encanto
Com a luminosidade etérea.


(Florianópolis  04/05/03  - 19:00)




SÊDE

(Adyr Pacheco)









 

Sedento
Nesse beber eterno
Do saber sem resposta.
Vejo o ser que se apega.
O ente que se busca
No “em si” que se nega.


Quero rever o Olimpo.
Os mitos da Teogonia
O espírito de Heródoto
E Homero na mitologia.
Quero as mulheres de Atenas
Na dança do Oráculo.
As Sibilas em Delfos
No descortínio do futuro.

Quero entender o caos
Fugir deste poço escuro.
Tentar a compreensão
Derrubar os tantos muros.
Estar com Thales
Na eterna contemplação,
Sendo amante da Sophia
Vivendo a cosmogonia
Na melodia da criação.


(Florianópolis  22/ 08/ 02   - 17:00)









ORVALHO

(Adyr Pacheco)












Vejo no horizonte,
A força do tempo que passa.
O orvalho da manhã,
Mostra-me o infinito
Em sugestões curiosas.
E então abafo o meu grito,
Ao despertar-me
Ante a visão do que fui
E que sou!...


(Florianópolis 02/05/03  -  09:30)

DEGREDO

(Adyr Pacheco)








 
Andei cego
Sob o império dos desvios.
Caminhei surdo
Nos excessos da razão.
Batendo à porta
Em caminhos estreitos,
Enlouqueci
No meu degredo,
Corroendo os segredos
Entre a figura
Das dúvidas.
Gemendo nas estradas
Em tantos desenganos,
Vejo formas vaporosas
De lírios e rosas,
Nos raios da aurora
Na atmosfera
Dos meus sonhos.


(Florianópolis  26/05/03 - 17:40)




MÁSCARAS E PECADOS (Crônica)

(Adyr Pacheco)


Somos na maioria das vezes, pretensiosos ao analisarmos os pecados alheios. Descobrimo-nos sem graça, ao olharmos as profundezas de nossas consciências, deparando-nos com os tantos e tantos pecados que praticamos no silêncio de nossos olhos, ou entre as sombras de nossos pensamentos.

Figuras por nós consideradas, exemplos de moral, verdadeiros heróis, grandes vilões seriam; despojados de seus segredos ocultos nas cavernas profundas de suas mentes.

Somos na realidade, pobres seres deficientes ainda em estágio na pequenez humana.

Pobres de nós, adultos considerados, colocados diante do julgamento Divino. Pobres de nós, que nos julgamos tão sábios, fortes, inteligentes, espertos e privilegiados por estarmos classificados no pilar arrogante dos “racionais”.

Diante do portal do túmulo, fatalmente, queiramos ou não, no tribunal de nossas consciências, nossos juizes internos de dedo em riste colocar-nos-ão na devida posição, desnudando-nos de nossas máscaras e mentiras que protegeram nossos pecados ao longo de toda uma existência na busca de prestígio, elevando altares à Deusa Hipocrisia.
E entendemos que todos os seres humanos tem a sua personalidade como característica básica de seu proceder.

Mas o que entendemos por personalidade?

Segundo o dicionário wikipedia, personalidade é processo gradual, complexo e único a cada indivíduo. O termo deriva do grego persona, com significado de máscara, designava a "personagem" representada pelos atores teatrais no palco.

Então colocamos nossas máscaras no palco da vida para podermos representar os nossos papéis conforme nossas necessidades ou “interesses”. Saímos na manhã de cada dia revestidos de nossas personas (máscaras) ao encontro de um mundo louco e insano, nos perdendo na conquista de um espaço que nos faça reconhecido e admirado - para muitos não interessando a forma ou o tipo de máscara.

...E percebemos neste mundo das “personas” a atmosfera de desconfiança cruel e agressiva. Lembramo-nos a partir desta colocação, de nossa infância, quando ouvíamos a todos instantes entre pessoas do relacionamento da família, e nas conversa de casa, que, “um fio de barba vale mais que um papel assinado”. Bons tempos aqueles, pois que hoje, nem em papel assinado pode-se confiar. Como dizia Rui Barbosa “chegará o tempo em que as pessoas terão vergonha de serem chamadas de honestas...”

Vamos buscar no pensamento de Einstein - "A personalidade criadora deve pensar e julgar por si mesma, porque o progresso moral da sociedade depende exclusivamente da sua independência" Que bom quando isto acontecer, onde a personalidade criadora possa julgar-se de forma ilibada, verdadeira e sincera; verdadeiro sonho a se conquistar, hoje não passando de uma utopia.

Apontamos nosso dedo em direções variadas chamando atenção ao erro alheio, mas esquecemos que quando estamos apontando nosso dedo, as nossas mãos fecham deixando com que três dedos fiquem direcionados a nós. Se quisermos mudar o mundo, precisamos antes de mais nada mudarmos a nós mesmos. No dizer de Leon Tolstoi "Todo mundo pensa em mudar o mundo, mas ninguém pensa em mudar a si mesmo."

Nos lembramos do exemplo das crianças, que não vêem maldade à sua volta, e a tudo recebem com naturalidade. Seu mundo é maravilhoso e verdadeiro onde as máscaras da hipocrisia não tem espaço.

Precisamos agora mais que nunca, resgatar e fortalecer os pilares incólumes da criança que se esconde nas cavernas de nossa mente, em sua inocência e simplicidade. Resgatar o brio perdido a vergonha esquecida. Resgatar esta mesma criança que desconhece as infelizes máscaras, e não se subordina aos desmandos do arrogante orgulho e da falsidade constante. Buscá-la sim, na profundidade de nossa alma, despertando a beleza que se esconde nos buracos submersos de nossa pobre e viciada consciência , para que, desta forma, possamos construir um mundo melhor de harmonia amor e paz.

Precisamos sim, agora mais que nunca, despertarmo-nos para a criança que somos e que latente grita em sua inocência dentro do peito de cada um de nós seres chamados "humanos".

Que a busca permanente do respeitoso encontro da verdade, do afeto, do riso, do amor e da amizade espontânea, seja a tônica de nossa relação com o sublime universo e a natureza, como o raiar de um novo sol de primavera, ou o perfume de uma flor.

(Florianópolis 09/11/03)

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

CORAÇÃO DE CRIANÇA

(Adyr Pacheco)












 
Tenho medo do vazio
Que o nada me oferta.
Quero a minha porta aberta,
Janelas sem trancas
E portão sem tramelas.
Sem chorumelas envelhecer,
Ter sempre as mãos
Para estender,
A quem minha casa adentrar.
Assim eu quero viver;
Tendo o coração alegre,
Sorriso solto sem disfarce,
De jeito um pouco moleque.
E quando este mundo deixar
Possam todos compreender,
Que o meu coração foi criança,
Temendo um dia morrer.


(Fkorianópolis 10/11/03  - 12:30)





CAMINHOS DO EGO

(Adyr Pacheco)










Restos submersos
Estilhaços de um tempo.
Vazio da vidraça
Janela de meu ego,
Onde impera a entrega cega
Do escuro relento.
E me vejo,
Na voz amarga do vento
Companheiro de lamentos.
Escondido
Entre as sombras espessas,
Me encontro
Aquém de um mundo
Onde a alma não se queda.
Gesto traído, vencido no ato,
Ouço o choro
Na razão de meus medos.
Mas a alma que se queda
Ao universo se revela,
Sobre as pedras do caminho
Guardiãs de meus segredos.


(Florianópolis 15/07/01 - 22:20)

DE REPENTE

(Adyr Pacheco)








 De repente,
Como se não fosse nada
Fugi da loucura.
E estou aqui
Hóspede na clausura,
Procurando atenção
Como doente sem cura.


De repente
Vivo o momento.
Considero as mudanças
Na oportunidade que se abre.
Mas não sei se a voz
Que em mim cala sabe,
De alguma luz que se consagre.


Pobre homem!
Que de repente
Confuso, é um intruso
Na cela sem nada
Sem chance alcançada,
Na agonia aflita
Pobre e desnudo.


Num poço abandonado,
Sou um menino neste poço.
Convidado sem louvores
Numa casa sinistra.


De repente e mais que de repente,
Já não tenho mais vista.
Não percebo a claridade
Da irradiante mocidade,
E não enxergo os meus erros
Nas pseudos verdades.


De repente... de repente...
Sou espectro andando cego
No mundo sentenciado
Tateando nas paredes
Como espírito renegado.


(Florianópolis 17/07/04 - 21:30)




TROVADOR

(Adyr Pacheco)












 No rumo de uma sombra
O trovador chorou.
Era um choro triste e lento
Na forma profunda
De um lamento.
A página da mocidade findou.
Uma boca de mulher,
Um leito, a vida impura.
Ante a sepultura
Um canto abandonado.
E o moço...
Ah! Aquele moço
Que era eu em doce lira
A musicar uma canção,
Quantos versos em sintonia!
Agora em oração
O céu em cortesia,
Abre-se ao trovador
Num sorriso de ironia.


(Florianópolis  16/07/04  - 15:20)








ENCONTRO

(Adyr Pacheco)











Mundo complexo
De universo lógico.
Nexo,
Ilógico,
No arbítrio
Livre
Da multiplicidade
Em desencanto.


Palavras,
Fatos,
Atos.
E o manto
Da apologia
Cobre
O pobre, o nobre.
Porém a morte
Que tudo vê
Me descobre
Na agonia da vida,
Vem ao meu
Encontro
E me abraça
Comovida.
 
(Florianópolis  - 26/08/02    - 08:00)


SÓ!!!...

(Adyr Pacheco)













 Estou só!...
Sento-me!... tenho dó.
Curvo-me!...
Pareço um nó.
Caio!...
Volto a ser pó.


Este é meu destino de menino,
Viver, crescer, envelhecer.
Depois...
Desaparecer.
Novamente voltar ao pó ...
Só!!!

"Momento de profunda introspecção
avaliando a passagem nesta existência".
(Florianópolis 28/03/00 - 06:35)









O TEMPO

(Adyr Pacheco)










Aqui!
A alva idéia.
O cintilar da voz
Responde
E ressoa
O passo das horas
Imóvel
No silêncio do tempo.


Acolá!
Na tarde
Fala das memórias,
Do eterno,
Das rimas.
No entanto
Nestas vestes
Rotas, cinzas,
Inclina-se o homem
Que era ontem
E agora
Em sombra finda.
 
Florianópolis 22/08/02   -  15:00)

domingo, 10 de janeiro de 2010

JORNADA

 (Adyr Pacheco)










 

...E vergarás os ombros
Sobre a terra ultrajada.
Olhos obscurecidos
Ante a caminhada
Que lenta,
Desenha a sombra
Das últimas jornadas
No adeus da vitalidade.
Ao pó os sonhos,
Ao pó a carne,
Ao pó a vaidade.
Era desejável toda ironia,
Onde vozes enclausuradas
Na récita do gosto amargo,
Da velhice árdua,
Encontra a própria realidade
Que o corpo descobre.
Em silencioso lamento,
Apenas chora.


(Florianópolis 03/03/2003 - 10:10)